๑۩۞۩๑ Bem vindos a minha doce voz de vento ๑۩۞۩๑


17/07/2009

Que eu seja...

Que eu seja como a que tece o pano na floresta profundamente escondida.
Que eu possa fazer o meu trabalho sem interrupção.
Que eu seja uma exilada, se este é o sacrifício.
Que eu conheça a procissão sazonada do meu espírito e do meu corpo, e possa celebrar os quartos em cruz, solstícios e equinócios.
Que cada Lua Cheia me encontre a olhar para cima, nas
árvores desenhadas no céu luminoso.
Que eu possa acariciar flores selvagens, cobri-las com as mãos.
Que eu possa liberta-las, sem apanhar nenhuma, para viver em abundância.
Que meus amigos sejam da espécie que ama o silêncio.
Que sejamos inocentes e despretensiosos.
Que eu seja capaz de gratidão.
Que eu saiba ter recebido a alegria, como o leite materno.
Que eu saiba isso como o meu gato, no sangue e nos ossos.
Que eu fale a verdade sobre a alegria e a dor, em
canções que soem como o aroma do alecrim, como todo o
dia e na Antigüidade, erva forte da cozinha.
Que eu não me incline a auto-integridade e a autopiedade.
Que eu possa me aproximar dos altos trabalhos da terra e
dos círculos de pedra, como raposa ou mariposa, e não
perturbar o lugar mais que isso.
Que meu olhar seja direto e minha mão firme.
Que minha porta se abra aqueles que habitam fora da riqueza, da fama e do privilégio.
Que os que jamais andaram descalços não encontrem o caminho que chega a minha porta.
Que se percam na jornada labiríntica.
Que eles voltem.
Que eu me sente ao lado do fogo no inverno e veja as chamas brilhando para o que vier, e nunca tenha necessidade de advertir ou aconselhar, sem que me pecam.
Que eu possa ter um simples banco de madeira, com verdadeiro regozijo.
Que o lugar onde habito seja como uma floresta.
Que haja caminhos e veredas para as cavernas e poços e
árvores e flores, animais e pássaros, todos conhecidos e
por mim reverenciados com amor.
Que minha existência mude o mundo não mais nem menos do
que o soprar do vento, ou o orgulhoso crescer das árvores.
Por isso, eu jogo fora a minha roupa.
Que eu possa conservar a fé, sempre!
Que jamais encontre desculpas para o oportunismo.
Que eu saiba que não tenho opção, e assim mesmo escolha como a cantiga é feita, em alegria e com amor.
Que eu faça a mesma escolha todos os dias e de novo.
Quando falhar, que eu me conceda o perdão.
Que eu dance nua, sem medo de enfrentar meu próprio reflexo.

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= Sobra tanta falta =

TeatrO.

TeatrO.
Cada palavra dita, cada expressão retorcida, cada gesto, o menor deles, feitos em um palco, não são apenas gestos, palavras e expressões, pois cada um deles é feito por nossas vozes interiores, vozes da alma, que gritam desesperadamente para ganharem vida.Vozes que afagam e que elevam nossas mentes, levando-as para uma transição entre o real e o imaginário. Cada personagem é uma vida e uma renovação no nosso modo de pensar e agir. Essas personagens jamais serão esquecidas, sempre viverão em nossas mentes, estão em movimento contínuo, misturam-se e criam sempre mais, com um pouco de uma e um pouco de outra, novas, novas e mais novas personagens são criadas e apreciadas por aqueles que tem o prazer e o dom de entendê-las. "O público vai ao teatro por causa dos atores. O autor de teatro é bom na medida em que escreve peças que dão margem a grandes interpretações dos atores. Mas, o ator tem que se conscientizar de que é um 'cristo' da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva. O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que o ator tenha muita coragem, muita humildade, e sobretudo um transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor da personalidade de seus personagens, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidade padronizados, como os hipócritas com seus códigos de ética pretendem." Plínio Marcos"

Meu bem querer.

Meu bem querer.
Nada é melhor do que minha palheta preta no meu violão velho de cordas descoordenadas, tocando melodias sem tom, letras sem nexo e gritos de solidão. Inicio de coisa boa, misturado com um som sem igual, desafinado, mas ainda assim perfeito, lindo, uma arte abstrata, subjetiva e cheia de dúvidas. Minha linda palheta preta toca com precisão nas velhas cordas cheias de nós do meu velho violão. (Day Guedes)

"E metade de mim é platéia e a outra metade canção... por inteira sou arte"

"E metade de mim é platéia e a outra metade canção... por inteira sou arte"
Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio, que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca, pois metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio. Que a música que ouço ao longe seja linda, ainda que tristeza que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante, porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade. Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor, apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento, porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo. Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço, que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada, porque metade de mim é o que penso e a outra metade um vulcão. Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável, que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que me lembro ter dado na infância, porque metade de mim é a lembrança do que fui e a outra metade não sei. Que não seja preciso mais que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito, e que o teu silêncio me fale cada vez mais, porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço. Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer, porque metade de mim é platéia e a outra metade é a canção. E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor e a outra metade também.