๑۩۞۩๑ Bem vindos a minha doce voz de vento ๑۩۞۩๑


26/10/2010

Simplesmente eu, Clarice Lispector Por: Beth Goulart

 "Eu achava que não era compreendida. O que fazer com isso tudo dentro de mim, com esse processo criativo, só Clarice me entendia",
"Usando as palavras dela, eu também estou falando de mim, eu me revelo através de minhas escolhas".
"Aquele momento único, que é como um flash, um insite"
"Eu sempre acalentei essa vontade de um dia poder dar meu corpo, minha voz, minhas emoções para colocá-la viva em cena".
"O espetáculo todo é como se fosse uma grande folha em branco a ser escrita por esses personagens, pelos movimentos, pelas ações, pelos sentimentos, pela luz". 
Beth Goulart.
Simplesmente Eu, Clarice Lispector

O espetáculo mostra a trajetória desta mulher em direção ao entendimento do amor, de seu universo, suas dúvidas e contradições. Uma autora e seus personagens dialogando sobre a vida e morte, criação, Deus, cotidiano, palavra, silêncio, solidão, entrega, inspiração, aceitação e entendimento. O texto é extraído de depoimentos, entrevistas, correspondências de Clarice e trechos das obras: Perto do Coração SelvagemUma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres e os contos Amor e Perdoando Deus.

19/10/2010

A vida dELA

Olha,
Será que ela é moça?
Será que ela é triste?
Será que é o contrário?
Será que é pintura o rosto da atriz?
Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida
Olha,
Será que é de louça?
Será que é de éter?
Será que é loucura?
Será que é cenário a casa da atriz?
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida
Sim, me leva para sempre Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Ah, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz
Olha,
Será que é uma estrela?
Será que é mentira? [mentira.. mentira.. mentira]
Será que é comédia?
Será que é divina a vida da atriz?
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se um arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida...
= Sobra tanta falta =

TeatrO.

TeatrO.
Cada palavra dita, cada expressão retorcida, cada gesto, o menor deles, feitos em um palco, não são apenas gestos, palavras e expressões, pois cada um deles é feito por nossas vozes interiores, vozes da alma, que gritam desesperadamente para ganharem vida.Vozes que afagam e que elevam nossas mentes, levando-as para uma transição entre o real e o imaginário. Cada personagem é uma vida e uma renovação no nosso modo de pensar e agir. Essas personagens jamais serão esquecidas, sempre viverão em nossas mentes, estão em movimento contínuo, misturam-se e criam sempre mais, com um pouco de uma e um pouco de outra, novas, novas e mais novas personagens são criadas e apreciadas por aqueles que tem o prazer e o dom de entendê-las. "O público vai ao teatro por causa dos atores. O autor de teatro é bom na medida em que escreve peças que dão margem a grandes interpretações dos atores. Mas, o ator tem que se conscientizar de que é um 'cristo' da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva. O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que o ator tenha muita coragem, muita humildade, e sobretudo um transbordamento de amor fraterno para abdicar da própria personalidade em favor da personalidade de seus personagens, com a única finalidade de fazer a sociedade entender que o ser humano não tem instintos e sensibilidade padronizados, como os hipócritas com seus códigos de ética pretendem." Plínio Marcos"

Meu bem querer.

Meu bem querer.
Nada é melhor do que minha palheta preta no meu violão velho de cordas descoordenadas, tocando melodias sem tom, letras sem nexo e gritos de solidão. Inicio de coisa boa, misturado com um som sem igual, desafinado, mas ainda assim perfeito, lindo, uma arte abstrata, subjetiva e cheia de dúvidas. Minha linda palheta preta toca com precisão nas velhas cordas cheias de nós do meu velho violão. (Day Guedes)

"E metade de mim é platéia e a outra metade canção... por inteira sou arte"

"E metade de mim é platéia e a outra metade canção... por inteira sou arte"
Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio, que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca, pois metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio. Que a música que ouço ao longe seja linda, ainda que tristeza que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante, porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade. Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor, apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento, porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo. Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço, que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada, porque metade de mim é o que penso e a outra metade um vulcão. Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável, que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que me lembro ter dado na infância, porque metade de mim é a lembrança do que fui e a outra metade não sei. Que não seja preciso mais que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito, e que o teu silêncio me fale cada vez mais, porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço. Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer, porque metade de mim é platéia e a outra metade é a canção. E que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor e a outra metade também.